quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ideias (mais ou menos) descabidas - parte II.


«Convidei-te a sair da minha vida várias vezes e desafiei-te, outras tantas, a ficares se tivesses coragem para viveres uma vida plena ao meu lado. Foste ficando, mas hoje sei que não foi pela coragem e sim pela cobardia que te impediu de mudares o rumo das coisas.
Lembras-te daquela vez em que discutimos sobre a relação que eu tinha com os meus amigos? E daquela em que nos zangamos por eu ter saído num dia em que ficaste em casa? Ou então da outra vez em que tentaste convencer-me a não viajar com a Luísa porque tu não podias ir? E estas discussões foram se repetindo (vezes sem conta) ao longo dos anos; em quase todas elas eu convidei-te a sair da nossa vida e expliquei-te – com alguns gritos pelo meio – que se eu não era uma mulher suficiente para ti e se precisavas de “melhor” devias, mesmo, ir embora. Cresci com uma convicção muito forte de que não vale a pena ter alguém ao nosso lado que não seja – no mínimo – insanamente feliz. E não quero com isto dizer que os momentos tristes e menos bons não façam parte das relações (porque fazem); no entanto, mesmo com esses momentos, existe a certeza de que a felicidade que sentimos está lá, pronta para aparecer depois da tempestade.
Muitas vezes tive a sensação de que, para ti, essa sensação de felicidade ao virar da esquina não estava lá. Durante muito tempo perguntei-me o que estaria a fazer de errado – será que o problema era meu? Tentei perceber se devia mudar alguma coisa e se havia algo de errado com todo o amor – e paixão – que sentia por ti. Confesso que não encontrei nenhuma resposta e, depois de te convidar a sair muitas vezes, acabei por perceber que quem esteve sempre mal foste tu. Na verdade, quem não me respeitou como mulher foste tu – ou estavas à espera que eu cedesse a todos os teus caprichos?
Comecei a pensar que os (alguns) homens não gostam nada de mulheres seguras, que lhes saibam fazer frente e que, na maioria das vezes, levem a sua vontade avante. Percebi isso, definitivamente, no dia em que te disse que ia para Barcelona; mas a verdade é que antes disso mostraste-me infinitos sinais de que eras um desses homens. Vais ser sempre assim: o cobarde machista que não suporta mulheres seguras de si.»

Sei que tenho andado um bocadinho desaparecida e que este mês a frequência das publicações não tem sido a melhor. Mas não tenho estado parada, continuo a dar aos dedos e a escrever sempre que posso; por isso, hoje trago-vos mais uma publicação da saga Ideias (mais ou menos) Descabidas para vos provar isso mesmo. Leiam e deixem o vosso feedback! :)

terça-feira, 19 de maio de 2015

"Uma mulher beija um homem".


Sabia que esperavam aquele beijo há muito tempo, mas talvez ela não soubesse há quanto tempo ele vivia para tocar os seus lábios. Não, ela não fazia a mais pequena ideia de que vivia, desde sempre, nos sonhos dele. E então, num momento de euforia, rodeados de tanta gente - e ao mesmo tempo sozinhos - ele olhou-a nos olhos e quis tanto abraça-la que deu um passo em frente. A pouco mais de um palmo do seu corpo estava, quem ele acreditava ser, a mulher da sua vida. Não soube bem o que sentir, o que pensar e, mais importante ainda, o que fazer. Quis tanto abraça-la que os seus braços perderam a força; quis tanto sorrir-lhe que não foi capaz de mexer os lábios; quis tanto beijá-la que não foi capaz de dar o passo em frente que lhe faltava. E foi perdido nestes devaneios que sentiu os lábios dela nos seus e que, pela primeira vez, deu todos os passos que faltavam para a felicidade. Ela já o tinha beijado.
E nesse momento, não conseguiu perceber o que batia mais: se o seu coração ou as asas das borboletas que tinham acabado de nascer no seu estômago.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Gostava que fosse assim.


Gostava que fosse assim:
que não tivesse que te ver todos os dias mesmo quando não estás à minha frente, que não tivesse que me lembrar de como é sentir-te junto a mim, de como é sentir o teu cheiro, com se estivesse entranhado em cada centímetro da minha pele, que não tivesse que me lembrar tão bem da tua voz e que o teu olhar não fosse assim, tão igual ao que é.
Queria desfazer-me de ti, deixar-te ir e tudo num abrir e fechar de olhos.
Fechar os olhos, bem devagar,
respirar fundo e sentir-te desaparecer,
e voltar a abrir os olhos,
sem ti.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

"O João é ganancioso."


Era tarde e o João já devia ter voltado do escritório. Agora era sempre assim: o trabalho estava sempre em primeiro lugar. Na verdade, acho que tinha sido sempre assim; mas depois de ter sido promovido tudo tinha piorado. Acabaram-se os tempos livres, os horários e os fins-de-semana. Ligava quase todos os dias, perto da hora de jantar, para dizer que tinha surgido um imprevisto. Na maior parte das vezes nem me queixava, mas quando o fazia o João tinha sempre a resposta preparada - dizia que me compensava nas férias. As férias com ele eram sempre nos destinos mais caros e nos melhores hotéis, onde a palavra de ordem era luxo. Eram os únicos dias do ano em que o telemóvel não tocava, não chegavam emails que pediam resposta urgente e o João não falava, sem parar, de negócios e dinheiro. Muitas vezes desejava que fosse despromovido e que tivesse (mais) tempo para mim; no entanto, uma parte de mim sabia que nem isso o iria fazer parar.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Ideias (mais ou menos) descabidas - parte I.


«Preparei-me para uma tarde longa e dura, pois nunca era fácil voltar a ler e a sentir tudo mais uma vez. Sabia que estava sozinha – o Luís só voltava à noite para jantar – e isso deixava-me mais tranquila. Não gostava que me visse perturbada com este assunto, porque sabia que para ele era ainda mais complicado lidar com isto tudo. Ainda hoje é o dia em que me pergunto como seria se fosse eu a estar no lugar dele. Na maior parte das vezes não consigo encontrar uma resposta.
Sentei-me na sala, no sofá perto da janela, e iniciei a dolorosa viagem pelas cartas que te escrevi; ou melhor, pelas cartas que escrevi sobre ti – nunca pensei, realmente, que as fosses ler. Comecei a escrevê-las no dia seguinte ao término – oficial – da nossa relação. Comecei a escrevê-las porque precisava de colocar no papel, ou em qualquer outra coisa fora de mim, tudo o que sentia – e eram tantas coisas ao mesmo tempo. Escrevi muitas delas em lágrimas e outras tantas com a serenidade que o passar do tempo acaba, inevitavelmente, por trazer.
Hoje em dia muitas destas cartas, e algumas das coisas que lá estão escritas, perderam o sentido. Continuo a sentir cada palavra com a mesma intensidade como no dia em que as escrevi, mas não me consigo rever na pessoa que as escreveu. Às vezes tenho a sensação de que isso não faz qualquer sentido; nas outras vezes, percebo que sou uma pessoa muito diferente da que era quando as escrevi. Não te amo como amava quando as escrevi, não te quero perto de mim como queria e nem quero trazer-te, de volta, para mim. Isso eu sei; e é tanto perto daquilo que não sei.
Ainda só tinha lido a primeira carta quando dei por mim perdida em mil pensamentos, e recordações, que não eram mais do que a soma de todos os nossos dias. E foram tantos, não foram? Às vezes tenho que o perguntar a mim própria, em voz alta, para ter a certeza de que, ainda, não enlouqueci. Mas a verdade é que foram mesmo muitos dias – para cima de muitos, mesmo. A única dúvida que me resta é se no meio de tudo, que foi tanto, ficaram mais dias felizes ou tristes para recordar. Não o soube dizer, ou sentir, naquela altura; e a verdade é que também ainda não o sei agora.»

Lembram-se do post referente aos 6 meses do DreamCate? Pois é, partilhei convosco a minha vontade de continuar a escrever cada vez mais e, quem sabe, passar do blog ao papel. Vou continuar a partilhar convosco as minhas histórias e as minhas ideias (mais ou menos) descabidas! :)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Pares únicos - parte II.


O problema não é a falta que me fazes, não é a tua ausência nem esta mania que tenho de te imaginar ao meu lado a toda a hora. O problema é: esta saudade ímpar que trago dentro de mim. Não é uma saudade qualquer, porque é a nossa; e tudo o que foi nosso, um dia, deveria durar para sempre. Mas não vai ser assim. Juro que me mato em esforços para me desfazer dela; no entanto, sei que esta determinação azeda com que o faço não é suficiente. Também sei que a força brilhante, que tanto usei para lutar por nós, é o que preciso agora para lutar contra esta saudade. Mas lutar contra a saudade, para mim, é como lutar contra ti - não consigo livrar-me deste pensamento montanhoso que me faz sempre voltar ao ponto de partida.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Seis meses de DreamCate.

Faz hoje seis meses que ganhei coragem, finalmente, para criar o DreamCate e partilhar com quem vai estando desse lado a minha (grande) paixão pela escrita. Só passou meio ano, mas já foi o suficiente para me mostrar que tomei a decisão certa e que quero, realmente, continuar a escrever. Desde o dia 4 de Novembro de 2014 e 73 publicações depois, o DreamCate teve mais de 5500 visualizações, ganhou 117 seguidores (mais 668 no facebook) e até passou por uma renovação total que lhe deu o aspecto que ele merece. 

No meio destas 73 publicações, algumas destacaram-se e por isso vou deixar-vos os links dos três textos mais lidos até hoje:

- Come on skinny love just last the year

- A convivência

- Sei que às vezes te custa esperar

Quero muito que o blog continue a crescer, que chegue a cada vez mais pessoas e que essas pessoas se identifiquem com aquilo que eu escrevo - não há melhor recompensa do que essa. Mas também quero outras coisas com a minha escrita; gostava que um dia deixasse de estar só aqui na blogoesfera e estivesse, também, impressa num belo conjunto de folhas às quais eu pudesse chamar de livro. Um livro meu. Às vezes a ideia parece completamente descabida, mas outras vezes parece tão real que não consigo parar de escrever. Enquanto tento perceber se a ideia é descabida, se é real ou se é, simplesmente, as duas coisas, vou mostrar-vos um bocadinho do meu "sonho". Espero que gostem e que continuem a passar por cá...prometo ter sempre bons textos! :)

«(...)O Luís é daquelas pessoas que não procuramos, mas que temos que encontrar. Tem o equilíbrio perfeito entre as qualidades e os defeitos – que é provavelmente a característica mais difícil de encontrar em alguém – e por isso é quase impossível zangarmos-nos com ele. Mesmo quando ele teima em ter sempre razão, em ser o mais ajuizado e o mais rebelde ao mesmo tempo, sabem? É difícil aconselhá-lo, seja no que for, porque ele nunca ouve ninguém – já decidiu o que vai fazer há muito tempo. Acerta quase sempre e quando isso não acontece tem a humildade de o dizer – ou de se calar, se for caso disso. Acho que a melhor qualidade do Luís, e foi também a que conheci primeiro, é a invisibilidade com que está presente. Ninguém dá por ele chegar, quase ninguém se apercebe de que acabou de sair, mas toda a gente sabe que ele ali está. Não é omnipresente, mas a segurança que nos dá é – nunca mais me senti sozinha (e só) depois dele.
Conheci o Luís num dos piores momentos da minha vida, até agora. E digo um dos piores porque para mim é sempre difícil eleger o pior ou o melhor momento, quer seja da minha vida ou de qualquer acontecimento menor do dia-a-dia. Não sei explicar. Fico sempre na dúvida e quase com medo de ser injusta com todos os outros momentos. Mas sim, o Luís chegou num dos piores momentos.
Eu estava sozinha, como sempre, sentada num banco de jardim. Na verdade, estava mais só do que sozinha pois havia sempre tanta gente a passar por ali, crianças a brincar, pais a gritar e turistas, tantos turistas, a passar. Estava em frente à Sagrada Família, em Barcelona, em pleno mês de Julho, por isso era impossível estar realmente sozinha. O Luís sentou-se no mesmo banco em que eu estava sentada. Sentou-se, simplesmente, sem pedir licença e sem perguntar se estava ocupado – estaria assim tão na cara que eu estava, irremediavelmente, sozinha? Era só um banco de jardim, público, onde, na verdade, qualquer um se podia sentar. E ele era só qualquer um. Não consegui deixar de me sentir, terrivelmente, incomodada. Olhei para ele pelo canto do olho, várias vezes, na esperança de perceber porquê que ele teria escolhido sentar-se no “meu” banco. Mas só consegui perceber que era bonito, muito até, e que sorria. Sorria de uma forma que, até hoje, não sei explicar como era, mas que transmitia toda a calma do mundo – não havia nenhum fardo nas suas costas, disso tive a certeza.
E essa, na verdade, era a única certeza de que precisava quando conhecia alguém, naquela altura, mesmo que não trocássemos uma única palavra. E foi isso que aconteceu naquele dia, conhecemo-nos mas não nos falámos. Fui embora com a sensação de que alguma coisa tinha acabado de mudar. Daquelas sensações que só compreendemos, verdadeiramente, quando as percebemos como uma recordação muito tempo depois. O Luís chegou, nesse dia, sem pedir licença – é a forma mais simples e verdadeira de explicar a maneira como ele entrou, quase, definitivamente na minha vida.
(...)
Estava, mais uma vez, sozinha. Talvez estivesse sentada no mesmo banco; ou então foi só a presença do Luís que me fez ter essa sensação de familiaridade. Voltou a sentar-se, mais uma vez, sem pedir licença. Desta vez não fiquei incomodada, na verdade até fiquei satisfeita que o tivesse feito – era bom ter companhia, mesmo que fosse silenciosa.
Pela segunda vez sentia que a presença dele, ali tão perto, me deixava mais tranquila. Não é que não me sentisse nervosa com a presença dele, com o olhar dele – quando o desviava para mim – e que toda eu me desfizesse por dentro. Não é que não desejasse, mais do que tudo, que ele se apresentasse e olhasse, de vez, para mim. Não é que essas coisas todas não fossem verdade, porque o eram. No entanto, a calma que trazia com ele era como um oásis num deserto e eu estava há tanto tempo, demasiado até, num deserto sem fim. Acho que foi por isso que a primeira coisa que senti com ele, e por ele, foi a tranquilidade que transmitia.
Dei por mim a pensar como seria a voz dele; como seriam os seus olhos vistos de frente; se seria muito alto ou da minha altura. Dei por mim perdida em devaneios românticos, completamente deliciada com esta coincidência – o mesmo banco, a mesma companhia. Por momentos abanei a cabeça e tentei afastar estes pensamentos que queriam ser mais, bem mais, do que meros pensamentos. Mas depois percebi que estes devaneios eram o mais real que tinha experienciado nos últimos dois anos; percebi que pela primeira vez, em muito tempo, estava viva. Por mais platónico que fosse, naquele momento, eu estava a viver – e como era bom viver outra vez.»
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