terça-feira, 1 de novembro de 2016

Um estranho vazio.

São quatro da manhã. São quase sempre quatro da manhã quando abro os olhos – a mim parece-me tudo de repente, mas tenho a certeza de que tudo está a acontecer lentamente – e sinto esta estranha sensação de ter acabado de aterrar no sítio errado. Fico uns momentos a tentar perceber o que me fez acordar do sono profundo. Tento perceber o que me fez (tão de repente) despertar, revirar mil vezes pela cama e não conseguir voltar a fechar os olhos.
E não preciso de tempo nenhum para o perceber, porque o sei desde o primeiro instante em os meus olhos abriram. Mas também sei que prefiro não o admitir no imediato. Que vou precisar de tempo – daquelas mil voltas pela cama – para finalmente o poder gritar a mim mesma. Enquanto isso, continuo a sentir tudo do avesso, como se eu própria tivesse voltado (dos sonhos) ao contrário. Como se meia dúzia de horas de sono me tivessem transformado: é um estranho vazio que, por alguns (longos) momentos, não me deixa. Parece que só está ali, comigo, para me lembrar de que, às vezes, é preciso acordar. Que é preciso acordar dos sonhos a tempo de os viver, que é preciso dar mil voltas para encontrar o caminho certo e que é possível andar em todas as direções. Acho que só está ali para me mostrar que é possível.
Acho que, na verdade, não me deixa até que finalmente admito – para mim mesma – tudo aquilo de que preciso. Não me deixa até que respiro fundo e dou sentido à imagem do último sonho; àquele último instante, antes de acordar, que fez tudo valer a pena; aquele último suspiro, antes do coração disparar, que me fez acordar para matar as saudades.
Sei, desde o instante em que os meus olhos abriram, que voltei – nem que seja por breves momentos – para matar as saudades.

domingo, 30 de outubro de 2016

Vale a pena ficar sem chão.


Gosto de encontrar uma explicação para tudo o que acontece. Um significado. Um porquê. Uma justificação que ajude tudo a ficar no lugar certo. Uma justificação que me ajude, nem que seja por uns momentos, a acreditar que tudo está como devia estar. Um significado, um porquê, uma justificação que me dê a sensação (confortável) de que tudo está sob o meu controlo. Quando, na verdade, nada está. Nada.
E, então, no meio de tudo o que me passa pela cabeça, não consigo deixar de pensar que talvez nada tenha realmente significado e que tudo esteja a acontecer ao maior dos acasos. Imagina: tudo na tua vida – os momentos, as pessoas, tudo o que tens – são meros acasos. Sem um significado. Sem um porquê. Sem uma justificação. Se em algumas situações este pensamento traz um alívio gigante, em outras deixa-te sem chão: afinal, de onde é que vem aquela sensação no peito que não te deixa parar de disparar significados?
Talvez não haja uma resposta certa. Talvez, às vezes, haja significado e, outras vezes, não. Talvez o significado venha com os acasos que ficam com todos os momentos que merecem ficar e ser mais do que isso. Talvez.
Prefiro acreditar, todos os dias, que, cada vez que o meu coração acelera, que os meus olhos brilham e que todos os meus pensamentos parecem certos, vale a pena ficar sem chão.

sábado, 29 de outubro de 2016

É como criar dias de sol nos dias de tempestade.


É quase como deixar que os meus dedos deslizem pelo teclado e criem qualquer coisa. É isso. É como criar. É como criar dias de sol nos dias de tempestade ou, então, dar aos vilões a dignidade suficiente para conseguir sentir falta deles. Acho que é o mais parecido, que conheço, com um mundo encantado, daqueles que não existem. É como se me sentasse em frente ao computador e procurasse inspiração no fundo de mim, naquilo que eu sinto ou já senti, mas depois virasse tudo ao contrário.
E viro mesmo tudo ao contrário. Experimento ver o meu mundo do avesso, enquanto sei que nada do que crio é verdade. Só quero tentar perceber como seria tudo de outra forma, se eu tivesse mesmo que estar num papel que não deveria ser o meu. Só para aquele acaso improvável de o meu papel, realmente, mudar.
Até lá, vou-me rindo, porque, no final de contas, é só mais uma brincadeira. Até ao dia.
Até ao dia em que acordas com a vida do avesso, num papel que não é o teu – nem devia ser o de ninguém -, e percebes que imaginar poder ser mesmo fantástico. Tão fantástico que (quase) se torna fácil perceber, depois, o que aí vem.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Porque viver é mesmo assim.


E depois há dias que te mostram que vale a pena acreditar sempre; que, mesmo quando tudo desaba à tua volta, vale sempre a pena guardar um bocadinho de esperança (ou o que lhe quiseres chamar) para todos os dias seguintes que tens pela frente. Porque isto de viver é mesmo assim: há dias que começam com chuva e terminam com o melhor pôr do sol que já viste; e outros que te derrubam com um temporal, quando ainda pensavas que o sol brilhava lá em cima.
E vai ser sempre assim: mesmo quando pensares que é desta que és feliz para sempre. A verdade é que isso não ia ter graça nenhuma — acordares um dia a saberes que todos os dias iriam ter o mesmo pôr do sol. Aprende a aproveitar todos os temporais, mesmo que, no imediato, não encontres nenhum arco-íris. Talvez até aprendas a dançar debaixo da chuva e a rires de tudo o que te derruba: depois disso tens poucas coisas difíceis pela frente.
Depois, vais perceber que (quase) tudo acontece no momento certo e que os melhores momentos acontecem depois das tempestades. Que todas as coisas boas guardadas para ti aparecem, invariavelmente, para te salvar. Porque, quando precisas de te salvar, o sol, simplesmente, aparece. E haverá melhor momento para isso, quando até já aprendeste a dançar à chuva?

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

É como acordar de um sonho.



Não consigo encontrar as palavras certas. Estou à volta disto tempo suficiente para saber que me incomoda e me revolve as entranhas ter que pôr isto cá para fora. Nunca sei explicar muito bem esta sensação de começar de novo, de voltar ao ponto de partida vezes sem conta, enquanto teimo em seguir – sempre – em frente.
É como se, de repente, já não houvesse mais ar para respirar, ou como se todo o ar respirável – o ar realmente bom – tivesse ficado todo para trás. Nos primeiros momentos fico à toa, sem conseguir perceber o porquê de tudo (não) estar a acontecer, e tento, desesperadamente, voltar atrás. Não demoro muito tempo a perceber que não consigo, que é fisicamente – e em qualquer outro plano paralelo – impossível voltar atrás. É irremediavelmente impossível voltar e ficar lá, parada – nem que seja só a respirar –, por mais um bocadinho. Não dá e é neste momento que tudo dói: não há nenhuma parte do meu corpo que fique indiferente.
Ainda tento negar tudo por mais uns momentos – vou ter tanto tempo para sentir a realidade –, enquanto revivo tudo, mais uma vez, na minha cabeça; até que depois chega a momento de aceitar que é definitivo. Respiro fundo pela primeira vez, habituo-me gradualmente ao ar que tenho que respirar e aceito (nem sempre totalmente) que, daqui a menos de nada (às vezes, demora tanto), tudo vai passar.
Acho que é como acordar de um sonho. Começas a sonhar tranquilamente, a adorar cada segundo, a fazer de tudo para que cada um daqueles momentos nunca acabem e sentes – mesmo que por breves instantes – que nada daquilo pode, realmente, terminar: já ninguém os pode roubar de ti. E depois, quando te esqueces que estás a sonhar, acordas, abruptamente, para a realidade.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

A coragem de (não) saber ficar.



Sempre me perguntei de onde vem a coragem. A coragem para fazer a coisa mais difícil do mundo. A coragem para dizer tudo o que sentimos. A coragem para não dizer absolutamente nada, quando temos tanta coisa para dizer. E a coragem para, simplesmente, virar as costas ou ficar no mesmo sítio quando tudo se desfaz.
Pergunto-me, tantas vezes, de onde vem a coragem, que talvez já tenha esbarrado com a resposta certa umas tantas outras vezes.
Talvez a coragem esteja exatamente em todas aquelas coisas pequenas, e aparentemente insignificantes, que fazemos quase todos os dias. Naqueles momentos em que o nosso coração aperta um bocadinho mais – como se, por segundos, tivesse sido esmagado –, por termos feito o que devíamos. São aqueles momentos em que viramos costas com determinação e juramos olhar para trás apenas quando for seguro não olhar mais ninguém nos olhos. Ou os momentos em que olhamos para trás, a tremer, por não sabermos se alguém ainda lá está à espera para nos acenar pela última vez. Ou, então, quando temos que saber ficar exatamente onde estamos, em vez de correr para quem mais queremos; quando temos que ficar sem todos os abraços que queremos (e de que precisamos) e quando todos os discursos se transformam em longos sorrisos que, esperamos nós, cheguem ao outro lado a gritar «não, não tenho nada para dizer».
A coragem é uma coisa esquisita, porque, na maioria das vezes, é cobarde e faz-nos ficar onde estamos. Exatamente onde estamos. Exatamente onde temos que estar. Exatamente onde precisamos de estar.



quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Há momentos em que tens de ir.

Há momentos em que tens de ir. Tens, simplesmente, de ir. Tens de perceber que não há volta a dar, que, por mais que os pensamentos te atormentem e que as mil e uma ideias que tens, a cada segundo, te façam querer virar costas e parar, tu sabes que tens de ir. E este ir é tão vazio e tão vasto. Ir para onde? Ir com quem? Ir fazer o quê? E podíamos ficar aqui uma vida inteira em perguntas. E a verdade é que ficamos mesmo a vida inteira em perguntas, em ses e em sonhos.
E por isso é que há momentos em que temos mesmo de ir. Calar as perguntas, descobrir os ses e realizar os sonhos. Ou, então, acabar com eles de vez, se for caso disso. Só assim podemos perceber qual é o nosso lugar, de uma vez por todas. Só assim podemos dizer que sabemos o que queremos. E nem sempre vamos encontrar exatamente o que procuramos, nem aquilo que sempre desejamos. Essa é uma das partes mais difíceis do caminho: vais desejar nunca ter saído de onde sempre estiveste. Mas acredito que, algures a meio do caminho, encontramos aquilo de que realmente precisamos e é, então, que tudo fica mais leve.
A partir desse momento, já sabes para onde tens de ir. Por muitas dúvidas que tenhas, sabes exatamente para onde deves ir. Porque a coragem, de que precisaste para te levantares e ires pela primeira vez, vem a dobrar quando descobres o caminho certo.

sábado, 20 de agosto de 2016

É sempre assim no dia da despedida.

O dia começa sempre da mesma maneira: com o coração mais pequeno. É uma parvoíce – eu sei –, o coração não pode diminuir. De repente sinto, também, que ele está a bater mais devagar, como se desacelerasse de propósito só para me ver aflita. No meio destas sensações bizarras, tenho uma voz dentro de mim que grita, como se eu fosse completamente surda, para eu aproveitar e não pensar em mais nada. Tento ouvi-la, juro que tento, mas não consigo: é sempre mais forte do que eu.
E depois, tento só imaginar que não se passa nada e viver o que há para viver. Respiro fundo, olho em frente e sorrio: não deve ser assim tão difícil fazer isto vezes sem conta. Mas quem é que eu quero enganar? É inversamente contrário a tudo o resto: quanto mais vezes o faço, mais difícil se torna. E essa é a verdade: não há um caminho fácil, ou atalho sequer, que facilite um bocadinho as coisas. Não há paninhos quentes, nem abraços milagrosos. Há só a força – que ainda não descobri de onde vem – e as lágrimas que não caem e me seguram de desabar.
No meio disto tudo, o coração continua a diminuir enquanto antecipa tudo aquilo que vai ter que ficar para trás (mais uma vez). E eu sei que no dia seguinte volto a respirar como se quase nada se tivesse passado, mesmo sabendo que foi tudo tão real. Mas não há como evitar: é sempre assim no dia da despedida.




segunda-feira, 18 de julho de 2016

As saudades.


E chega um dia em que percebes que estar perto é o que realmente importa; que as saudades que sentes todos os dias não são nada parecidas com as dos filmes: que se apaziguam com meia dúzia de abraços e de palavras bem desenhadas entre os lábios dos atores. Percebes sempre isso da pior maneira: quando estás sozinho e tudo o que precisas está demasiado longe de ti.

Chega um momento em que percebes que a tua vida acontece tantos dias sem ti, que talvez, em parte, já não te pertença. Sentes que, de cada vez que voltas, tens que correr uma maratona para acompanhar tudo o que aconteceu no entretanto da tua ausência. E é sempre assim: uma alegria enorme misturada com uma grande angústia de não saber muito bem a que lugar pertencemos agora. Ou talvez a angústia seja apenas por sabermos, exatamente, o lugar a que pertencemos; e por sabermos que esse lugar está – quase sempre – demasiado longe.


E, no meio disto tudo – que são apenas saudades –, percebes o mais importante: aconteça o que acontecer, no final vais voltar. Mesmo que uma parte da tua vida tenha seguido sozinha, sem ti, tu vais voltar para o lugar a que pertences. E mesmo que te pareça tarde de mais, lembra-te: estás sempre a tempo de voltar!


domingo, 3 de abril de 2016

(In)sanidade mental.



Penso na vontade que tenho que todas as pessoas que estão (sempre) à nossa volta desapareçam; mesmo que só esteja uma pessoa por perto, longe o suficiente para não nos ouvir, sinto que sempre que estamos juntos temos uma multidão por perto. Penso, depois, no que gostava que acontecesse se estivéssemos (completamente) sozinhos: acredito que penses no mesmo. Sinto que “nós” – que isto tudo que nos une – é tão certo que chego a duvidar da minha (in)sanidade mental. Espero o momento certo para te sorrir – enquanto peço mais uma vez para estarmos sozinhos – porque sei que me vais sorrir de volta; e tu sabes, o teu sorriso não é justo. O teu sorriso é o mais injusto de todos, porque me faz ter a certeza de que te quero por perto, de que te quero tocar e de que, vá para onde for, te vou levar comigo. E depois percebo – no meio da minha tentativa de te sorrir melhor, não quero por nada ficar atrás da tua injustiça – que talvez o teu sorriso seja apenas tão justo como tu: espontâneo e verdadeiro como és sempre que olhas para mim. Percebo, quando finalmente tenho que desviar o meu olhar do teu, que não fazes a mínima ideia do quão bonito és e do que me fazes sentir: não sou a mesma desde que começaste a olhar para mim. 

sábado, 26 de março de 2016

Mil e uma ideias.


Acredito que alguns momentos nos podem trazer toda a paz que precisamos; acredito que o teu abraço me tira o chão, uma parte da minha razão e me tira a vontade de tentar fazer as coisas como devem ser, mas no meio desse turbilhão de emoções que é ter-te sempre comigo, sinto uma paz que não me lembro de sentir antes. É uma paz que começa (sempre) com um alvoroço: quando sei que estás por perto, quando sei que faltam apenas alguns momentos para olhar nos teus olhos e te abraçar o meu coração deixa de saber o que fazer – ora para de repente e fico sem saber como respirar, ora começa a bater cada vez mais depressa como se tivesse acabado de correr uma maratona. 

E depois vem a paz – ou que quer que seja – de saber que me devolves o abraço com a mesma vontade e que olhas para mim como se não tivesse passado um segundo sequer desde a última vez. Vem a paz por saber que também tiveste saudades – que também tens saudades minhas todos os dias e que pensas em mim – e estavas tão ansioso como eu pelo reencontro, por aquele abraço e aquele olhar que valem mais do que mil palavras. Aprendi contigo a gostar ainda mais da linguagem não-verbal, desta ideia de olhar para ti, sem dizer nada, e saber que sabes exactamente o que me passa pela cabeça – e pelo coração; aprendi que gostar (tanto, mas tanto) de ti como gosto não é fácil de gerir em meia dúzia de palavras quando te vejo. É um bocadinho mais fácil de gerir com o meu sorriso quando não tiras os olhos de mim, com o meu abraço quando me abraças tão forte e com um beijo, quando me beijas com a doçura de quem me quer por perto.


(Sei que prometi passar por cá mais vezes e explicar o motivo da minha ausência, mas os últimos meses têm sido loucos e passaram a voar - literalmente. Quem me segue pelo facebook já deve ter reparado que mudei de país e de trabalho, mas não parei de escrever...na verdade, nunca paro. Venho deixar-vos mais uma das mil uma ideias que me passam pela cabeça e que - desta vez - tive tempo de passar para o papel).
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