Não
sei encontrar as palavras certas para esta leveza que sinto quando parece que
tudo está no lugar certo, mesmo quando nada está nesse lugar certo. Esta
incerteza de não saber se estou perto ou se estou longe, se este abismo que me
separa de tudo o que preciso vai algum dia diminuir. Esta incerteza de não
saber qual é o passo seguinte e que terra firme vou encontrar do outro lado.
Acho
que é o medo; ou então o medo que tenho do próprio medo. Para mim, quase tudo
se resume a isto: tudo o que não faço e (quase) tudo o que faço é culpa do (meu)
medo. E sei que não sou só eu, e que esta leveza que insiste tanto em ficar
quando parece não fazer qualquer sentido é, na verdade, o que dá sentido a uma
boa parte da nossa vida. Talvez – mesmo quando não parece – à melhor parte da
nossa vida.
Aquela
sensação – a que gosto de chamar leveza porque não sei ser nada além de
otimista – que nos consome por dentro até que lhe damos uma voz. Aquele
burburinho na nossa cabeça que não nos deixa pensar em mais nada, que nos
mantém acordados além da conta e que só começa a diminuir quando o deixamos
gritar. É aquela espécie de frio na barriga que nos faz procurar terra firme a
cada segundo que passa, mas que só diminui quando finalmente deixamos de lutar
e ganhamos asas.
Acho
que é só o medo a gritar baixinho – ao meu ouvido – que está tudo bem, que
nunca me perdi e que os sonhos maus nem sempre se realizam. Vai estar sempre
ali – a olhar por mim, a tomar conta de mim – para nunca me deixar parar.