sábado, 11 de abril de 2020

É só medo.


Não sei encontrar as palavras certas para esta leveza que sinto quando parece que tudo está no lugar certo, mesmo quando nada está nesse lugar certo. Esta incerteza de não saber se estou perto ou se estou longe, se este abismo que me separa de tudo o que preciso vai algum dia diminuir. Esta incerteza de não saber qual é o passo seguinte e que terra firme vou encontrar do outro lado.

Acho que é o medo; ou então o medo que tenho do próprio medo. Para mim, quase tudo se resume a isto: tudo o que não faço e (quase) tudo o que faço é culpa do (meu) medo. E sei que não sou só eu, e que esta leveza que insiste tanto em ficar quando parece não fazer qualquer sentido é, na verdade, o que dá sentido a uma boa parte da nossa vida. Talvez – mesmo quando não parece – à melhor parte da nossa vida.
Aquela sensação – a que gosto de chamar leveza porque não sei ser nada além de otimista – que nos consome por dentro até que lhe damos uma voz. Aquele burburinho na nossa cabeça que não nos deixa pensar em mais nada, que nos mantém acordados além da conta e que só começa a diminuir quando o deixamos gritar. É aquela espécie de frio na barriga que nos faz procurar terra firme a cada segundo que passa, mas que só diminui quando finalmente deixamos de lutar e ganhamos asas.


Acho que é só o medo a gritar baixinho – ao meu ouvido – que está tudo bem, que nunca me perdi e que os sonhos maus nem sempre se realizam. Vai estar sempre ali – a olhar por mim, a tomar conta de mim – para nunca me deixar parar.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Entre Viagens.



Eu vivo, literalmente, entre viagens. A minha rotina diária resume-se a uma série de horas de voo entre o ir e o voltar a casa. O voltar a casa. A uma casa que não era minha até há pouco tempo atrás, uma casa que tantas vezes parece escorregar-me por entre os dedos por não ser – realmente – a minha casa. Mas que me acolhe como se eu tivesse vivido sempre aqui.
Não vivo só entre viagens: vivo também por entre as viagens. Nos sorrisos, nas gargalhadas, nas frustrações e nos desabafos de quem partilha as viagens comigo. De quem é, no fundo, igual a mim. De quem volta todos os dias a casa com mil sonhos por viver e com a ânsia de que as próximas horas no ar passem a voar. É sempre assim: espera-se que a descolagem e a aterragem fiquem cada vez mais perto uma da outra.
E depois toca-se o chão para enfrentar o profundo vazio de já não se saber muito bem ao que se pertence: ao ir, ao voltar ou ao ficar. Talvez não pertença a nenhum dos três. Ou talvez pertença aos três com a mesma intensidade. E acho que é, exatamente, por isso que aprendi a viver entre viagens, que não vejo as semanas pelo calendário e que não vivo os meses com um princípio e um fim.
Vivo entre as viagens que faço todos os dias e vivo para as viagens que marco, e sem as quais o passar do tempo seria um tic-tac constante e assustador. Ainda não sei se é um modo de vida, mas é um modo de sobrevivência. É – definitivamente – o meu modo de sobrevivência.


De uma altura em que o ir e o voltar eram direitos adquiridos, e o ficar (em casa) era uma opção de todos.

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