quarta-feira, 26 de outubro de 2016

É como acordar de um sonho.



Não consigo encontrar as palavras certas. Estou à volta disto tempo suficiente para saber que me incomoda e me revolve as entranhas ter que pôr isto cá para fora. Nunca sei explicar muito bem esta sensação de começar de novo, de voltar ao ponto de partida vezes sem conta, enquanto teimo em seguir – sempre – em frente.
É como se, de repente, já não houvesse mais ar para respirar, ou como se todo o ar respirável – o ar realmente bom – tivesse ficado todo para trás. Nos primeiros momentos fico à toa, sem conseguir perceber o porquê de tudo (não) estar a acontecer, e tento, desesperadamente, voltar atrás. Não demoro muito tempo a perceber que não consigo, que é fisicamente – e em qualquer outro plano paralelo – impossível voltar atrás. É irremediavelmente impossível voltar e ficar lá, parada – nem que seja só a respirar –, por mais um bocadinho. Não dá e é neste momento que tudo dói: não há nenhuma parte do meu corpo que fique indiferente.
Ainda tento negar tudo por mais uns momentos – vou ter tanto tempo para sentir a realidade –, enquanto revivo tudo, mais uma vez, na minha cabeça; até que depois chega a momento de aceitar que é definitivo. Respiro fundo pela primeira vez, habituo-me gradualmente ao ar que tenho que respirar e aceito (nem sempre totalmente) que, daqui a menos de nada (às vezes, demora tanto), tudo vai passar.
Acho que é como acordar de um sonho. Começas a sonhar tranquilamente, a adorar cada segundo, a fazer de tudo para que cada um daqueles momentos nunca acabem e sentes – mesmo que por breves instantes – que nada daquilo pode, realmente, terminar: já ninguém os pode roubar de ti. E depois, quando te esqueces que estás a sonhar, acordas, abruptamente, para a realidade.

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