Eu
vivo, literalmente, entre viagens. A minha rotina diária resume-se a uma série
de horas de voo entre o ir e o voltar a casa. O voltar a casa. A uma casa que
não era minha até há pouco tempo atrás, uma casa que tantas vezes parece
escorregar-me por entre os dedos por não ser – realmente – a minha casa. Mas
que me acolhe como se eu tivesse vivido sempre aqui.
Não
vivo só entre viagens: vivo também por entre as viagens. Nos sorrisos, nas
gargalhadas, nas frustrações e nos desabafos de quem partilha as viagens
comigo. De quem é, no fundo, igual a mim. De quem volta todos os dias a casa
com mil sonhos por viver e com a ânsia de que as próximas horas no ar passem a
voar. É sempre assim: espera-se que a descolagem e a aterragem fiquem cada vez
mais perto uma da outra.
E
depois toca-se o chão para enfrentar o profundo vazio de já não se saber muito
bem ao que se pertence: ao ir, ao voltar ou ao ficar. Talvez não pertença a
nenhum dos três. Ou talvez pertença aos três com a mesma intensidade. E acho
que é, exatamente, por isso que aprendi a viver entre viagens, que não vejo as
semanas pelo calendário e que não vivo os meses com um princípio e um fim.
Vivo
entre as viagens que faço todos os dias e vivo para as viagens que marco, e sem
as quais o passar do tempo seria um tic-tac constante e assustador. Ainda não
sei se é um modo de vida, mas é um modo de sobrevivência. É – definitivamente –
o meu modo de sobrevivência.
De uma altura em que o ir e o voltar eram direitos adquiridos, e o ficar (em casa) era uma opção de todos.
Olá Catarina! Já tinha saudades de te ler por aqui.
ResponderEliminarBem-vinda de volta!
Parabéns pelo texto. =)
escreviverbyanaribeiro.wordpress.com
Muito Obrigada Ana! :)
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