Não era a primeira vez, e provavelmente
não seria a última, que eu chegava a casa e te via sentado no sofá, a delirar o
álcool que te corria nas veias, como se para ti o mundo não passasse das tuas
garrafas de vodka, que escondias, quase com carinho, debaixo da nossa cama.
Debaixo da cama onde fazíamos amor, onde dormíamos abraçados, antes do álcool
te corromper o corpo, e pior do que isso, a alma.
A partir do momento em que te deixei
entrar na minha vida e te trouxe para minha casa, soube que a nossa vida não
seria um mar de rosas, que a nossa relação não ia ser ”um para sempre” bonito
dos filmes, nem um ” por enquanto” miserável e precário da vida real. Soube-te
perdido desde o primeiro segundo, soube-te perdido desde a primeira noite, em
que adormeceste tu, abraçado a mim, como uma criança, que dorme na cama dos
pais porque tem medo do escuro. Soube-me perdida, também, de amores pela tua
fragilidade, pela tua dependência que me inspirava um instinto maternal, que eu
julgava não existir dentro de mim. Percebi que era demasiado forte para te deixar
ir embora, para te deixar sozinho, quando precisavas tanto de alguém. E assim
foi. Foste ficando e ficando, até que trouxeste todas as tuas tralhas e
passamos a dizer “a nossa casa” em vez de “a minha casa”.
Ainda me lembro da primeira vez em
que te encontrei mergulhado nesse sofá, a sofrer a tristeza que o álcool
(também) consegue trazer. Para além da pena que senti, lembro-me de te ter
despido e de te ter posto debaixo do chuveiro, de teres chorado e de me teres
pedido desculpa. Lembro-me de ter chorado também, muito, de me ter desfeito das
garrafas que deixaste espalhadas pela casa e de ter prometido a mim mesma que
seria a primeira e a última vez que uma situação dessas acontecia contigo.
Nesse dia, percebi que me estavas a fugir por entre os dedos desde o início,
que nunca tinhas estado só comigo, e que o álcool era o teu porto de abrigo
mais próximo.
Os vícios de quem nos é tanto não os consomem só a eles, a nós também. E por gostarmos de mais não somos capazes de virar as costas. Permanecemos ali, dando o nosso melhor, para os libertar dessas amarras.
ResponderEliminarAdorei!
Obrigada Andreia! :) espero que continues a passar por cá!
EliminarBeijinhos
Texto muito bem escrito e que fala sobre uma realidade cada vez mais presente na vida de tantos casais... Continua o bom trabalho e não deixes de escrever nunca
ResponderEliminarBeijinhos