sexta-feira, 3 de julho de 2015

Pequenas histórias #3


Procurava sempre a face dela da mesma maneira: com os dedos das mãos bem esticados, enquanto sorria a antecipar o que já sabia sentir. Ao primeiro toque desenhava-lhe o rosto como ninguém; conhecia, melhor do que ela própria, cada pedaço de pele que a fazia tão bonita.
Sabia de cor a forma dos seus olhos – o direito era ligeiramente mais rasgado –, o tamanho do seu pequeno nariz – que lhe cabia no dedo mindinho –, o formato das suas sobrancelhas fartas – que lhe conferiam tanta personalidade – e o diâmetro dos seus lábios desenhados, milimetricamente, no sítio certo – nem um bocadinho para a esquerda, nem ligeiramente para a direita.
Depois do primeiro toque, muitas descargas eléctricas percorriam o corpo dele com uma intensidade difícil de descrever: ela estava-lhe à flor da pele e ainda só lhe tinha tocado com a ponta dos dedos. E enquanto ela falava – e ela falava sempre – todos os sons pareciam estar em sintonia. Talvez a pudesse reconhecer em qualquer parte do mundo e no meio de uma multidão. Era a única certeza que tinha: se não lhe pudesse tocar, bastava que ela falasse para se verem.

3 comentários :

  1. Adorei a última frase. Ás vezes, é mesmo isso que sinto :)

    Isa,
    http://isamirtilo.blogspot.pt/

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  2. Que bonito, Catarina! Não paras de surpreender *.*
    Às vezes só precisamos de um pequeno toque para reconhecer a outra pessoa, ou ouvir a sua voz. Depois disso parece que tudo faz muito mais sentido.

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