No mês de Março falei-vos de uma colectânea - da
Editora Papel D´Arroz - na qual um dos meus textos seria publicado. Bem, como já devem ter reparado pela fotografia, já é oficial: mais um texto meu foi editado. E como prometido deixo-vos com fotos do livro e com o texto completo.
Espero que gostem e que deixem o vosso
feedback. Podem não acreditar, mas as vossas palavras ajudam-me muitas vezes a não desistir - deste e de outros sonhos! :)
«Não tenho bem a certeza do que te
quero dizer, se é que quero mesmo dizer alguma coisa. Nem sei se devo
esclarecer tudo de uma vez, talvez seja melhor deixar andar e esperar que um
dia não precise de dizer nada. Que um dia olhemos um para um outro, mesmo sem
nos vermos, e consigamos perceber porquê. Porquê?
Às vezes tenho a sensação de que
nunca vou saber, de que por mais que tente, por mais que pense em tudo que o que
aconteceu, nunca vou perceber. Mesmo quando tento reconstruir mentalmente cada
passo, cada falha…parece que não faz sentido. Tu estavas lá, só para mim. Eu
estava lá, só para ti. Era assim, tão fácil como parece não era? Era só dar as
mãos, sorrir e continuar. Mas não foi assim.
Tenho a impressão que nunca mais
demos as mãos como antes, que nunca mais senti a tua palma contra a minha como
se me quisesses só para ti. E tenho a certeza de que nunca mais olhaste para
mim, como quem me lê por dentro, que nunca mais estiveste apaixonado por mim em
nenhum dos milhares de olhares que trocámos depois disso. Estavas sempre
nostálgico como se me perguntasses a cada segundo, a cada pestanejar, o porquê
de tudo aquilo. Porquê?
Sentia-te a cobrar uma resposta a
cada momento que passava. Cada olhar era o despejar da raiva, do ressentimento
e do desprezo…que querias sentir. Mas não sentias. Acho que isso era o pior de
tudo para ti. Não sentir o mal que te fiz. Mesmo que não estivesses apaixonado
de cada vez que me olhavas nos olhos, de todas as vezes que viravas costas, querias
abraçar-me para sempre. A mim doía-me, terrivelmente, por saber que isso nunca
iria acontecer. A ti, por saberes que era o que mais querias.
Nesses momentos sentia que nunca me
ia perdoar e, pior do que isso, sabia que tu nunca me irias perdoar
verdadeiramente.
Às vezes pergunto-me se aquele dia
mudou, realmente, alguma coisa em ti. Pergunto-me se tudo aquilo que eu disse e
tudo aquilo que não fui capaz de ser para ti te destruiu tanto como a mim.
Pergunto-me se aquele dia foi um momento decisivo, se mudou mesmo a minha
existência e a tua. Também gostava de saber se algum dia, depois desse, foste a
mesma pessoa que eu conheci. Se voltaste a olhar tão fundo os olhos de alguém
como olhaste os meus, um dia, se abraçaste alguém tão forte que a fizeste
sentir a pessoa mais segura do mundo. Pergunto-me se voltaste a ser a pessoa
por quem me apaixonei ou se no momento em que viraste costas com uma simples
despedida de ocasião, como se eu não tivesse significado nada para ti, nunca
mais voltaste a ser o mesmo.
Se calhar é por isso que sinto
sempre tanto a tua falta, que te procuro em todas as pessoas que conheço, em
todos aqueles que se apaixonam por mim. Procuro sentir tudo igual, como se
fosses tu. Procuro o teu olhar, para me sentir da maneira como me vias e me
sentias no teu coração. Pergunto-me se voltaste a chorar por mim. Ver-te chorar
desesperou-me de tal maneira que quando me lembro ainda fico com o coração
partido. Depois penso na coragem que tive para dizer tudo. Penso na vontade que
tive de não dizer nada e no peso que iria carregar sempre se não tivesse dito. E
então, falei. Disse tudo…tudo o que me tinha passado pela cabeça, tudo o que
tinha pensado e que esperava, do fundo do coração, nunca ter que te dizer nem
te fazer sentir. E enquanto dizia, ia-me sentindo cada vez mais perdida como se
tivesse escolhido um caminho sem retorno possível. Senti, naquele momento, que
te adorava, mais do que tudo e que te estava a perder para sempre. Percebi que
me escorregavas por entre os dedos a cada segundo que passava e que,
independentemente do que eu viesse a fazer ou a dizer, nunca irias voltar para
mim e que nada iria ser como há poucos minutos. Então, choramos para tentar
superar tudo o que vinha pela frente. Tu, por saberes que não irias conseguir
ultrapassar tudo aquilo e que por isso, nunca me irias perdoar. Eu, por outro
lado, sabia que teria que fazer de tudo para que me perdoasses.
Sabes o que me doeu mais naquele
momento? Foi pensar que podias ser o amor da minha vida. Aquele que toda a
gente diz que só há um. Comecei a perceber que nos estávamos a perder para sempre.
E se tivesse que viver o resto da vida a aprender a gostar das pessoas por não
te puder ter comigo? Imaginei essa dor de aprender a gostar; de me lembrar de
ti de cada vez que olhasse dentro dos olhos de quem me quisesse bem; de que a
qualquer momento me iria lembrar de ti e te poderia ver ali, à minha frente, no
lugar de quem lá estaria realmente. E chegarei mesmo a lembrar-me – consegui
sentir essa dor em antecipação.
Dou voltas e voltas à cabeça para
tentar perceber se ficou alguma coisa por fazer ou por dizer, para que me
pudesses perdoar, e para que pudéssemos continuar do ponto onde parámos. E é
também nestes momentos que penso, onde será que nos perdemos, se é que algum
dia nos conseguimos perder. Fico a pensar nas juras de amor que fizemos em todos
os (milhares de) olhares que trocamos ao longo da nossa existência, juntos. Também me perco a imaginar-te perto de mim, todos os dias, como antes, penso
nas vezes em que te lembras de mim, de nós. Morro por te perguntar se ainda
sentes a minha falta, se o teu coração ainda bate mais depressa de cada vez que
eu me aproximo, se te sentes nervoso e com vontade de me sorrir quando falas
comigo, quando estás perto de mim. E depois, no meio destas vontades todas, no
meio da angústia deste “voltar a casa”, como quem vai reencontrando pedaços de
vida, que foi perdendo, ou esquecendo ao longo do caminho, já não sei se penso
em ti, ou nas pessoas que tentei que se parecessem contigo, que fossem um
espelho fiel de ti.»