O dia começa sempre da
mesma maneira: com o coração mais pequeno. É uma parvoíce – eu sei –, o coração
não pode diminuir. De repente sinto, também, que ele está a bater mais devagar,
como se desacelerasse de propósito só para me ver aflita. No meio destas
sensações bizarras, tenho uma voz dentro de mim que grita, como se eu fosse
completamente surda, para eu aproveitar e não pensar em mais nada. Tento
ouvi-la, juro que tento, mas não consigo: é sempre mais forte do que eu.
E depois, tento só
imaginar que não se passa nada e viver o que há para viver. Respiro fundo, olho
em frente e sorrio: não deve ser assim tão difícil fazer isto vezes sem conta.
Mas quem é que eu quero enganar? É inversamente contrário a tudo o resto:
quanto mais vezes o faço, mais difícil se torna. E essa é a verdade: não há um
caminho fácil, ou atalho sequer, que facilite um bocadinho as coisas. Não há
paninhos quentes, nem abraços milagrosos. Há só a força – que ainda não
descobri de onde vem – e as lágrimas que não caem e me seguram de desabar.
No meio disto tudo, o
coração continua a diminuir enquanto antecipa tudo aquilo que vai ter que ficar
para trás (mais uma vez). E eu sei que no dia seguinte volto a respirar como se
quase nada se tivesse passado, mesmo sabendo que foi tudo tão real. Mas não há
como evitar: é sempre assim no dia da despedida.