sexta-feira, 31 de julho de 2015

Poesia no DreamCate #1


Às vezes chego a pensar, quase no limite da minha (in)sanidade mental,
Se estás desse lado, em sintonia comigo, a pensar comigo e em mim,
A sentir-me perto de ti como se nunca me tivesses perdido.
Consigo sentir, quase como se fosse real, a tua presença perto de mim,
Os teus olhos nos meus, as tuas mãos a percorrerem-me
E os teus lábios a tocarem os meus.

É
Como se parte de mim não conseguisse viver
Sem a viciante tortura de te tentar perceber,
De te tentar acolher entre braços sem fim
E gritar-te bem baixinho ao ouvido
Que está tudo bem, que nunca te perdeste,
Que foi só um sonho mau e que eu estive sempre ali,
A olhar por ti,
A tomar conta de ti.

É
Como se parte de mim só conseguisse viver
Com um medo irresistível de não querer passar o risco,
De não querer perder tudo outra vez,
De não querer ser demais com alguém,
Que bem ou mal,
Nunca seria igual,
Nem de longe nem de perto,
A ti.

Acho que é, também, por já não aguentar mais ter-te tão perto,
Quando sei, melhor do que ninguém,
Que estás a mais de muitos quilómetros de distância
De tudo aquilo que se pode esperar de alguém.


(Prometo que volto à prosa, e às pequenas histórias de sexta-feira, na próxima semana!)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Ideias (mais ou menos) descabidas - parte X.


« (...) O primeiro beijo não aconteceu muito depois dessa noite; a verdade é que todo o tempo do mundo era muito tempo para esperar. Tenho a certeza que entrei em pânico nesse momento, que me senti desajeitada por não saber bem o que devia fazer e que vi outra pessoa no lugar do Luís por uns momentos. Por uns momentos senti que tudo estava errado, que não devia avançar assim tão depressa. Quando abri os olhos era o Luís que me sorria – sim, era o Luís. Precisei de uns segundos para me reajustar à realidade, para abrir bem os olhos e me dar conta de que quem me sorria naquele momento era o meu presente – não era o meu passado e talvez não fosse o meu futuro.
Enquanto me reajustava e lhe sorria de volta, decidi-me por um segundo beijo, talvez agora, depois da novidade, tudo parecesse (ainda) melhor. E assim foi: o segundo beijo foi, definitivamente, o melhor. No segundo senti o Luís por inteiro – era mesmo ele que estava ali comigo – e voltei a ouvir o burburinho maravilhoso das minhas borboletas. Afinal, talvez fosse possível voltar a ser feliz.»

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pequenas histórias #6


«Um casal desaparece sem deixar rasto»
Era o título principal de um dos muitos jornais que nunca costumo ler. Estranhamente, nesse dia, decidi passar pela banca de jornais antes de ir tomar café; mal olhei para aquele título não consegui evitar um ataque de curiosidade. Comprei o jornal e segui para o café, onde pretendia ler aquela notícia de uma ponta à outra.
O casal tinha desaparecido sem deixar rasto – num momento estavam em casa a jantar e no momento seguinte já ninguém sabia deles. Arrepiei-me quando pensei nesta certeza de imprevisibilidade que paira sobre nós a cada segundo que passa. Quando voltei à notícia, fiquei a saber que o casal de desaparecidos estava em casa a jantar – segundo amigos do casal – quando deixou de atender o telemóvel e de responder ao toque da campainha do prédio. Segundo esses amigos, o casal festejava um aniversário e tinha-os convidado para aparecerem depois de jantar. Parei para pensar numa coincidência: a Maria tinha feito anos no dia anterior e eu, com todo o trabalho do costume, não tinha conseguido ir cantar-lhe os parabéns.
E com isto tudo ainda não tinha lido em que parte do país tinha acontecido este desaparecimento e quem tinha, realmente, desaparecido. Umas linhas mais abaixo lá estavam os nomes: João Almeida e Maria Ribeiro, naturais do Porto. Não, não podia ser verdade. Era a Maria uma das desaparecidas? O telemóvel tocou, demorei a encontrá-lo dentro da mala; era a Joana e a primeira coisa que disse foi “Já leste os jornais de hoje?”

quarta-feira, 22 de julho de 2015

O DreamCate pela blogoesfera #1


Esta semana não podia estar a correr melhor: um texto partilhado numa plataforma com mais de um milhão de seguidores e uma publicação (muito especial) em destaque no Blogging. Espero que gostem das novidades e que continuem a acompanhar tudo desse lado! :)



segunda-feira, 20 de julho de 2015

Ideias (mais ou menos) descabidas - parte IX.


« (...) Falámos – ele mais do que eu – durante horas e quando nos despedimos (a muito custo, pois nenhum de nós queria realmente acabar com aquele encontro), o Luís arranjou maneira de me tocar – sabia que o queria fazer desde que nos tínhamos cumprimentado à chegada – e de ficar o mais próximo possível. Olhou-me nos olhos o tempo suficiente para que voltassem a nascer borboletas no meu estômago e quando eu pensei que me ia beijar – e tive a sensação de que ia entrar em pânico –, ele sorriu e abraçou-me; abraçou-me o tempo suficiente para me sentir – finalmente – segura e, enquanto me devolvia do seu abraço, sussurrou ao meu ouvido que tínhamos todo o tempo do mundo. E virou costas para seguir o seu caminho de volta a casa, enquanto eu fiquei completamente imóvel a tentar perceber o que tinha acabado de acontecer. Não consegui evitar o sorriso enquanto pensava que algumas pessoas tinham, mesmo, que fazer parte da nossa vida – o Luís era, sem dúvida nenhuma, uma delas.»

domingo, 19 de julho de 2015

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Pequenas histórias #5


Sabes quanto tempo passou desde a última vez? Lembro-me, tão bem, de cada segundo que passou depois da última noite em que te vi que podia jurar que estou acordada desde então; podia – mesmo – jurar que esta falta que me fazes me consome mais do que toda a nossa química quando estás por perto. Não sei, exactamente, como qualificar este vazio em que me deixas. Na verdade, queria eu não ter que sentir (nem dizer) que não há falta maior do que a que tu fazes na minha vida, que não há ninguém no mundo inteiro que me faça tanta falta como tu fazes. É como se não soubesse dizer, como se não soubesse traduzir em palavras – daquelas que se desenham entre os lábios e nos soam aos ouvidos – tudo aquilo que me fazes sentir quando não estás aqui. Seria tão mais fácil se não tivesse que dizer nada, se entendesses os olhares, os gestos e até os silêncios que não pareço dizer, mas que são como as palavras mais difíceis de sentir entre os lábios.
No entanto, gostava de dizer – para que soubesses – que nem sempre são rosas o que sentes em acasos perdidos; que nem sempre são rosas os olhares de cortar a respiração que se transformam em noites de amor. É nesses momentos que percebo quase tudo o que me deixa presa e raras vezes me deixa avançar; vejo, claramente, que nunca te deixo ir embora de vez, que te guardo para te poder abraçar sempre que alguém quer ocupar o teu lugar e eu sinto que não é igual a ter-te a ti junto a mim.
E é por saber que continuas (sempre) à distância de um abraço que não suporto a ideia de estar aqui, de me negar ao que mais quero: sentir-te comigo.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

"O Conto Continuado" de Renato Ferreira.


Hoje venho falar-vos de mais um livro da Chiado Editora - "O Conto Continuado" - que acabei de ler ontem à noite. Vou deixar-vos primeiro com a sinopse:

Um conto foi escrito. Não se sabe muito bem quem o escreveu. Nele um escritor escreve um conto sem permissão ter de se envolver amorosamente com a personagem feminina - a Genoveva. 

Este conto tem a sua continuação. Genoveva continua na história, que envolve também o escritor Paulo Antunes. Este vai ter que fazer uma escolha....

Gosto muito de ler à noite, antes de adormecer, e quando estou a gostar mesmo do livro sabe-me bem pensar que ainda tenho mais umas páginas para ler no dia seguinte; a não ser quando tenho um ataque de curiosidade e tenho mesmo que o ler até ao fim - foi isso que aconteceu ontem com "O Conto Continuado".
É um livro diferente do habitual, em que o autor nos vai guiando por uma(s) história(s) que só ele conhece sem nos dar pistas do desfecho final. Foi inevitável não me lembrar do Paul Auster (escritor Norte-Americano) e das suas histórias pouco óbvias e onde tudo acaba por fazer sentido. 
Foi inevitável, também, não ver o autor em quase todas as palavras deste livro; mas a verdade é que este foi um privilégio meu (e de mais alguns que o vão ler com toda a certeza), uma vez que o autor é meu primo. Foi fácil ver o Renato Ferreira em cada linha deste livro e perceber o quanto ele deu de si para cada história. 
Este livro é para todos aqueles que gostam tanto de ler como de escrever e que sonham acordados com cada história que lêm. É um livro que nos mostra que aquilo que lemos nos influencia diariamente, nos leva a perseguir sonhos e tantas vezes a realizá-los. É, no fundo, um livro para escreventes e escritores - todos se vão identificar com algum aspecto desta obra.
Os livros são, sem dúvida nenhuma, um mundo encantado em que tudo pode acontecer; "O Conto Continuado" não é excepção. Espero que leiam e que gostem!

Deixo-vos com alguns dos excertos que mais gostei :)





terça-feira, 14 de julho de 2015

Leituras do momento #1

E são estes os livros da Chiado Editora que andam cá por casa:


"As Leos e os seus rapazes" de Tomás Múrias

"O Conto Continuado" de Renato Ferreira

Este último é bem especial! Em breve conto-vos tudo :)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Ideias (mais ou menos) descabidas - parte VIII.


«Dei por mim perdida em mais peças de teatro e ensaios intermináveis; era o meu primeiro encontro em mais de dois anos. Mas, na verdade, sentia-o como mais do que isso: era o meu primeiro encontro depois de ti e, por mais tempo que passasse, continuava sem saber se iria ser capaz. Tive medo de te ver no lugar do Luís, de abrir os olhos e de estares lá – a olhar para mim – como se nunca tivesses ido embora. Confesso que tive vontade de desmarcar tudo; e se o Luís não fosse a pessoa certa para dar este passo? Percebi que nunca o iria saber se não fosse e então decidi, sem possibilidade de voltar atrás, que ia.
Passei o resto da semana a desejar que chegasse a sábado para voltar a vê-lo e, também, para acabar com toda aquela ansiedade que não me largava nem um segundo. Lembro-me bem do calor que fazia nesse dia e do ar quente - e pesado - que tanto custava respirar. Lembro-me, melhor ainda, das mil vezes que pensei em não ir; mas no meio de todas as hesitações decidi ir furiosamente em frente. Saí de casa, decidida e determinada, e fui ganhando confiança a cada passo que dava no asfalto fervilhante da cidade. Sentia-me uma descobridora, como se nunca ninguém tivesse feito aquele caminho - parecia que o estava a estrear de fresco. E perdida no meio desta força, que não sabia bem de onde vinha, vi-te ao longe a sorrir para mim. Senti-me fraquejar e, por momentos, pensei em recuar e deixar-me de descobertas; no entanto, no último segundo dei por mim a avançar com toda a determinação. E fui assim - prego a dentro - ao teu encontro.»

domingo, 12 de julho de 2015

Sobre a Simplicidade.



Hoje é dia de mais uma rubrica no A Few Lines. Espero que gostem :)

Simplicidade.

A vida contigo é simples. Não é fácil, mas é simples. Nunca soube muito bem o que procurava nas pessoas que fui encontrado ao longo do caminho, que pessoa é que precisava para ter ao meu lado. E agora que te encontrei, sei que te procurei a vida toda. Sei que procurei a simplicidade da vida que temos. Mesmo quando as dificuldades nos fazem sair da nossa zona de conforto, nós estamos sempre prontos para as transformar em momentos de crescimento e aprendizagem. Haverá coisa melhor? Não há conforto maior do que este que sinto, de saber que não interessa se o mundo se vai desmoronar amanhã, porque tu estás aqui comigo.

E se é verdade o que dizem, que a nossa vida só começa verdadeiramente quando estamos fora da nossa zona de conforto, então que seja, não há desconforto que vença um porto seguro. E Tu és o meu.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Pequenas histórias #4


Se não fosse a tua ausência permanente e irremediável, muito provavelmente nunca te agradeceria como sempre mereceste. Mas é sempre assim, não é? Só nos lembramos – verdadeiramente – das pessoas que nos fazem falta quando elas teimam em desaparecer. E depois é tão tarde para agradecer tudo, de uma só vez, que não é fácil saber por onde começar. Por isso, vou começar e acabar no mais importante: tu.
Acima de tudo, gostava de te agradecer por teres feito parte da minha vida e me teres ensinado tantas lições – as maiores quando já estavas tão longe. Por, de tantas formas, teres feito de mim o que sou hoje: em mim estarás sempre vivo. É, também, por isso que hoje sei que as tuas borboletas nunca morrerão dentro do meu estômago; obrigada por não as teres levado contigo. Na verdade, o que quero mesmo é agradecer-te por as teres deixado comigo no nosso primeiro encontro, durante o nosso primeiro beijo; e quero dizer-te mil vezes obrigada por me teres permitido descobrir o que era estar – estupidamente – apaixonada. Por me teres ensinado, mesmo sem saberes, que quando amamos alguém o nosso coração descai, ligeiramente, para baixo e mergulha numa piscina de borboletas inquietas; e por me teres permitido descobrir que essas borboletas são muito mais do que a metáfora da qual nasceram.

Nota: Hoje é o dia da publicação nº 100 :)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

"Um Amor Inexplicável" de Ana Ribeiro.


A Leitura em dia andava um bocadinho esquecida aqui no DreamCate, mas está de volta e espero que que a partir de agora de forma mais regular :)

Desta vez trago-vos um livro que li sem ser em parceria com Chiado Editora. "Um Amor Inexplicável" é um livro da Ana Ribeiro do Blog Escreviver Portefólio de Escrita. Acompanho o trabalho da Ana desde o início deste ano e, por isso, fui acompanhando também a escrita deste Amor Inexplicável.



Sinopse
Italiana de nascença, a viver no Porto desde pequena; Laura é uma jovem dinâmica, comunicativa, extrovertida, apaixonada pelo desenho e pela Moda e que adora ajudar os outros, principalmente os pais no restaurante L’italiano que têm na baixa da cidade.

Mas estava longe de imaginar as voltas que a sua vida iria dar; quando um dia, casualmente, conhece o João Pedro nos corredores do colégio que frequentam: um jovem igual a tantos outros, cheio de sonhos e objectivos, com grandes aspirações interrompidas quando descobre que tem uma leucemia. 
A sua vida muda radicalmente e fica toda em suspenso: abandonado pelos melhores amigos, o João Pedro vê na Laura a amiga que nunca teve, com quem desabafa os seus receios e medos acerca da doença e do seu futuro incerto. Juntos travam uma dura batalha pela reconquista da vida e dos seus maiores sonhos, um caminho duro e demorado, ao longo do qual vão aprendendo grandes lições e a dar mais valor às pequenas coisas.
E o amor acontece sem estarem à espera. 
Laura e João Pedro apaixonam-se um pelo outro, numa altura em que muita coisa é posta em causa; sem medo do futuro que os espera, arriscam e assumem o que sentem.
Mas será Laura capaz de amar o João Pedro dentro do seu quadro clínico?



A Ana aborda neste romance uma temática muito delicada: o cancro na infância e adolescência. As duas personagens principais - a Laura e o João Pedro - são dois adolescentes que se conhecem quando o João Pedro trava a maior batalha da sua vida. Numa linguagem clara e acessível a todos os públicos, a autora conta-nos uma história de superação em que a amizade e o amor se tornam os ingredientes principais. 

É um livro que se lê muito bem e que nos faz acreditar que tudo é possível, até aos sonhos mais difíceis de realizar. Confesso que à medida que o lia pensei muitas vezes que talvez algumas coisas fossem demasiado irreais (acabo sempre por não gostar tanto de finais perfeitos), mas depois acabei por perceber o objectivo da Ana: motivar e fazer sonhar quem luta contra o cancro todos os dias. 
Acredito que o objectivo foi cumprido!

Parabéns Ana e continuação de muito sucesso :)

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ideias (mais ou menos) descabidas - parte VII.


« (...) E foi então que percebi que não fazia a mínima ideia do que iria acontecer a todo este amor que – ainda – tinha dentro de mim. Se por um lado queria esquecer-te já hoje para não ter que sentir a esmagadora tristeza de não estares aqui, por outro sabia que isso não iria acontecer – nem o desejava realmente – e que ficarias sempre comigo.
E as tuas borboletas, ficariam para sempre comigo? Ou morreriam contigo, dentro de mim? Será que algum dia, daqui para a frente, voltarei a senti-las bater as asas com tanta força como quando estavas aqui? Tenho feito estas perguntas tantas vezes (a mim própria) que chego a questionar a minha (in)sanidade mental. E depois parece-me quase despropositado preocupar-me tanto com isto: com esta sensação de leveza – como se andássemos sobre nuvens – que sempre me fizeste sentir desde o primeiro ao último olhar; no meio de toda esta dor, questiono muitas vezes se estou a enlouquecer porque não me parece normal passar os dias de olhos fechados a tentar recriar – na minha cabeça – todas as situações em que as tuas borboletas dançavam felizes dentro de mim.
Mas talvez isto não seja mais do que a soma daquilo que fomos: um turbilhão de emoções que tantas vezes não conseguimos explicar e de sentimentos desenfreados que nunca foram suficientes (...).» 

domingo, 5 de julho de 2015

Sobres as borboletas.


Hoje é dia de mais uma rubrica no A Few Lines e, como já vem sendo habitual, recordo mais um texto do início do DreamCate :)


E se as tuas borboletas nunca morrerem no meu estômago?

É como se de repente tudo parasse, e eu só conseguisse pensar em ti. Acho que é nesse momento que sei que estás por perto. E então começo a ensaiar o meu melhor sorriso, a escolher as melhores palavras e a fingir que o facto de estares ali tão perto me é indiferente. No meio disto tudo, passa-me pela cabeça que provavelmente estou a tremer e que se tentar mexer, nem que seja um músculo, toda a gente vai perceber que a minha indiferença é uma mentira. Penso também que as borboletas que tenho no estômago batem as asas com tanta força que é impossível que alguém ainda não saiba que eu estou completamente apaixonada por ti. Parece-me impossível disfarçar seja o que for, até porque quando olhares para mim, o que acaba por acontecer mais cedo ou mais tarde, vais saber a verdade, ou não me lesses tu por dentro como ninguém.
Então, quando finalmente tenho que olhar para ti, começo a tentar controlar todos os meus movimentos, o meu coração acelera e chega aos mil por hora. E quando parece que vai explodir, olho para ti e sorrio o melhor que posso, na esperança de estar ligeiramente invisível, para que os nossos olhos não se encontrem nem por um segundo. Caso contrário, nunca mais vou conseguir acabar com as borboletas.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Pequenas histórias #3


Procurava sempre a face dela da mesma maneira: com os dedos das mãos bem esticados, enquanto sorria a antecipar o que já sabia sentir. Ao primeiro toque desenhava-lhe o rosto como ninguém; conhecia, melhor do que ela própria, cada pedaço de pele que a fazia tão bonita.
Sabia de cor a forma dos seus olhos – o direito era ligeiramente mais rasgado –, o tamanho do seu pequeno nariz – que lhe cabia no dedo mindinho –, o formato das suas sobrancelhas fartas – que lhe conferiam tanta personalidade – e o diâmetro dos seus lábios desenhados, milimetricamente, no sítio certo – nem um bocadinho para a esquerda, nem ligeiramente para a direita.
Depois do primeiro toque, muitas descargas eléctricas percorriam o corpo dele com uma intensidade difícil de descrever: ela estava-lhe à flor da pele e ainda só lhe tinha tocado com a ponta dos dedos. E enquanto ela falava – e ela falava sempre – todos os sons pareciam estar em sintonia. Talvez a pudesse reconhecer em qualquer parte do mundo e no meio de uma multidão. Era a única certeza que tinha: se não lhe pudesse tocar, bastava que ela falasse para se verem.
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